“Em Passos, toda semana se abre um bar, uma boate ou coisa do tipo. A gente não ouve falar que abriu uma nova empresa para dar empregos às pessoas, um teatro ou uma biblioteca”. Com essas palavras o ex-delegado regional de policia civil, Fábio de Oliveira, resumiu em uma entrevista à Rádio Globo, os fatores que explicam os crescentes índices de criminalidade na 5ª maior cidade do Sul de Minas, ou seja: falta de empregos e opções de lazer, principalmente para a população mais pobre.
Para entender o contexto em que se insere a declaração do ex-delegado, que se aposentou há pouco mais de cinco meses, um dado importante: A grande maioria dos crimes que vem ocorrendo no município de Passos é em decorrência do uso de drogas, incluindo bebida alcoólica, e quase sempre relacionada ao acerto de contas entre traficantes e usuários. A carência de opções, tanto de lazer quanto de empregos, é o que tem levado segundo especialistas, jovens a consumirem cada vez mais cedo algum tipo de droga, principalmente nas periferias.
“A ausência de políticas sociais e de atividades culturais no município contribui para a proliferação do número de bares e o aumento no consumo de drogas, colocando a população mais pobre numa situação de vulnerabilidade social” comenta o assistente social Gilberto Ribeiro. “Devido à situação de desestrutura familiar, a droga acaba sendo a principal porta de entrada para o crime”.
No ano de 2009, aconteceram 22 assassinatos no município, sem incluir o crime que ocorreu no primeiro dia de 2010, quando uma jovem de 16 anos, que havia assistido a passagem do ano na Praça do Rosário, foi encontrada morta no bairro Casarão. Sua morte foi por estrangulamento. Além de ter sido abusada sexualmente, ela apresentava diversos sinais de violência pelo corpo. O crime até hoje não foi desvendado, e foi o primeiro de seis homicídios que já aconteceram neste ano até o momento do fechamento do Preto e Branco.
Investimentos não têm resolvido
Reportagem do jornal Folha da Manhã, de março de 2010, mostra que Passos está entre as 100 cidades mais violentas do Brasil para a faixa etária entre zero e 19 anos, ficando à frente de cidades como Rio de Janeiro e Ribeirão Preto. Em Minas Gerais, Passos ocupa o 15º lugar no ranking.
Segue um trecho da reportagem “A taxa média de homicídios na população de zero a 19 anos registrada em Passos entre 2005 e 2007 foi de 26 a cada 100 mil habitantes. Segundo o estudo, a taxa é maior do que a registrada em cidades como Ribeirão Preto (SP), 21,5, e Rio de Janeiro (RJ), 21,4.” Mostra a reportagem.
Estes dados apresentam um paradoxo em relação ao que vem sendo amplamente divulgado pelo governo de Minas no tocante aos investimentos em segurança pública no estado, e especial em Passos.
O economista passense Cássio Soares, ocupou até o começo deste ano o cargo de Subsecretário de Estado de Defesa Social. Durante o tempo em que esteve na secretaria, Cássio trabalhou para viabilizar recursos tanto para a Policia Militar quanto para a Polícia Civil. Neste período a cidade recebeu investimentos na área de segurança pública como nunca antes recebera, como reconhecem diversas pessoas ligadas a área.
Os principais investimentos, segundo Cássio, foram com o objetivo de melhor equipar as corporações, oferecendo aos policiais condições adequadas para trabalharem com eficiência no combate a criminalidade.
“Na verdade, tivemos sim, uma redução da criminalidade geral nos anos de 2007 e 2008 na nossa cidade, e em 2009 percebemos um aumento.” ressalta Cássio, que reconhece a criminalidade, antes de tudo, como um fenômeno social. “Portanto, vai além do alcance apenas das polícias” admite. Na avaliação do ex-subsecretário, falta união de todos os setores da sociedade para que a criminalidade esteja em níveis menos alarmantes.
“Na esfera municipal, o Poder Executivo deve realizar ações concretas de combate à criminalidade, já que um dos princípios é o do emprego e geração de rendas. “A pessoa sem perspectiva de trabalho está a um passo do crime” afirma Cássio, que alerta para “a importância do sistema de justiça - Ministério Público e poder judiciário – estarem em constante ação, e conversando com as forças de polícia para que todos tenham como meta diminuir a criminalidade”.
O olhar da educação
Já para a pedagoga aposentada Graça Garcia, uma das principais causas do aumento da criminalidade se deve à falta de estrutura familiar. Para Graça, os pais, com a necessidade de terem que trabalhar cada vez mais, não estão dando a importância necessária para a formação do caráter de seus filhos.
“O que falta hoje, tanto nas famílias, quanto nas escolas, é uma formação mais voltada aos valores humanos. A formação do caráter tem que ser trabalhada desde cedo, e isto envolve uma série de fatores, inclusive uma maior participação do poder público, no sentido de chamar os diversos setores da comunidade para encontrarem soluções para estes problemas” avalia.
A Assessoria de Comunicação do 12º Batalhão da Polícia Militar afirmou que o trabalho da Policia Militar em Passos e nos demais 19 municípios da região está sendo feito, além das ações e operações policiais. O objetivo é reduzir o crime e o medo da violência, em especial o de homicídio, foco do estudo produzido pelo Instituto Sangari no período de 2003 a 2007.
Segundo a Assessoria, a PM mineira possui programas sociais para atender crianças e adolescentes, tais como o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd), Jovens Construindo a Cidadania (JCC), Juventude Cidadã – em parceria com a Fundação de Ensino Superior de Passos (Fesp) -Garotos para Paz e policiamento escolar, que pretende prevenir que esta faixa etária seja vítima da criminalidade.