terça-feira, 23 de novembro de 2010

POR QUE TANTOS CRIMES


“Em Passos, toda semana se abre um bar, uma boate ou coisa do tipo. A gente não ouve falar que abriu uma nova empresa para dar empregos às pessoas, um teatro ou uma biblioteca”. Com essas palavras o ex-delegado regional de policia civil, Fábio de Oliveira, resumiu em uma entrevista à Rádio Globo, os fatores que explicam os crescentes índices de criminalidade na 5ª maior cidade do Sul de Minas, ou seja: falta de empregos e opções de lazer, principalmente para a população mais pobre.

Para entender o contexto em que se insere a declaração do ex-delegado, que se aposentou há pouco mais de cinco meses, um dado importante: A grande maioria dos crimes que vem ocorrendo no município de Passos é em decorrência do uso de drogas, incluindo bebida alcoólica, e quase sempre relacionada ao acerto de contas entre traficantes e usuários. A carência de opções, tanto de lazer quanto de empregos, é o que tem levado segundo especialistas, jovens a consumirem cada vez mais cedo algum tipo de droga, principalmente nas periferias.

“A ausência de políticas sociais e de atividades culturais no município contribui para a proliferação do número de bares e o aumento no consumo de drogas, colocando a população mais pobre numa situação de vulnerabilidade social” comenta o assistente social Gilberto Ribeiro. “Devido à situação de desestrutura familiar, a droga acaba sendo a principal porta de entrada para o crime”.

No ano de 2009, aconteceram 22 assassinatos no município, sem incluir o crime que ocorreu no primeiro dia de 2010, quando uma jovem de 16 anos, que havia assistido a passagem do ano na Praça do Rosário, foi encontrada morta no bairro Casarão. Sua morte foi por estrangulamento. Além de ter sido abusada sexualmente, ela apresentava diversos sinais de violência pelo corpo. O crime até hoje não foi desvendado, e foi o primeiro de seis homicídios que já aconteceram neste ano até o momento do fechamento do Preto e Branco.

Investimentos não têm resolvido

Reportagem do jornal Folha da Manhã, de março de 2010, mostra que Passos está entre as 100 cidades mais violentas do Brasil para a faixa etária entre zero e 19 anos, ficando à frente de cidades como Rio de Janeiro e Ribeirão Preto. Em Minas Gerais, Passos ocupa o 15º lugar no ranking.

Segue um trecho da reportagem “A taxa média de homicídios na população de zero a 19 anos registrada em Passos entre 2005 e 2007 foi de 26 a cada 100 mil habitantes. Segundo o estudo, a taxa é maior do que a registrada em cidades como Ribeirão Preto (SP), 21,5, e Rio de Janeiro (RJ), 21,4.” Mostra a reportagem.

Estes dados apresentam um paradoxo em relação ao que vem sendo amplamente divulgado pelo governo de Minas no tocante aos investimentos em segurança pública no estado, e especial em Passos.

O economista passense Cássio Soares, ocupou até o começo deste ano o cargo de Subsecretário de Estado de Defesa Social. Durante o tempo em que esteve na secretaria, Cássio trabalhou para viabilizar recursos tanto para a Policia Militar quanto para a Polícia Civil. Neste período a cidade recebeu investimentos na área de segurança pública como nunca antes recebera, como reconhecem diversas pessoas ligadas a área.

Os principais investimentos, segundo Cássio, foram com o objetivo de melhor equipar as corporações, oferecendo aos policiais condições adequadas para trabalharem com eficiência no combate a criminalidade.

“Na verdade, tivemos sim, uma redução da criminalidade geral nos anos de 2007 e 2008 na nossa cidade, e em 2009 percebemos um aumento.” ressalta Cássio, que reconhece a criminalidade, antes de tudo, como um fenômeno social. “Portanto, vai além do alcance apenas das polícias” admite. Na avaliação do ex-subsecretário, falta união de todos os setores da sociedade para que a criminalidade esteja em níveis menos alarmantes.

“Na esfera municipal, o Poder Executivo deve realizar ações concretas de combate à criminalidade, já que um dos princípios é o do emprego e geração de rendas. “A pessoa sem perspectiva de trabalho está a um passo do crime” afirma Cássio, que alerta para “a importância do sistema de justiça - Ministério Público e poder judiciário – estarem em constante ação, e conversando com as forças de polícia para que todos tenham como meta diminuir a criminalidade”.

O olhar da educação

Já para a pedagoga aposentada Graça Garcia, uma das principais causas do aumento da criminalidade se deve à falta de estrutura familiar. Para Graça, os pais, com a necessidade de terem que trabalhar cada vez mais, não estão dando a importância necessária para a formação do caráter de seus filhos.

“O que falta hoje, tanto nas famílias, quanto nas escolas, é uma formação mais voltada aos valores humanos. A formação do caráter tem que ser trabalhada desde cedo, e isto envolve uma série de fatores, inclusive uma maior participação do poder público, no sentido de chamar os diversos setores da comunidade para encontrarem soluções para estes problemas” avalia.

A Assessoria de Comunicação do 12º Batalhão da Polícia Militar afirmou que o trabalho da Policia Militar em Passos e nos demais 19 municípios da região está sendo feito, além das ações e operações policiais. O objetivo é reduzir o crime e o medo da violência, em especial o de homicídio, foco do estudo produzido pelo Instituto Sangari no período de 2003 a 2007.

Segundo a Assessoria, a PM mineira possui programas sociais para atender crianças e adolescentes, tais como o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd), Jovens Construindo a Cidadania (JCC), Juventude Cidadã – em parceria com a Fundação de Ensino Superior de Passos (Fesp) -Garotos para Paz e policiamento escolar, que pretende prevenir que esta faixa etária seja vítima da criminalidade.



sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A DESCOBERTA DO CINEMA: O Homem Elefante, a Laranja Mecânica e considerações sobre a (falta de) cultura passense

O ano era 2008. Após o trabalho, sempre pegava carona até em casa com um amigo.Em uma dessas caronas, ele precisou parar em uma vídeo-locadora para devolver alguns filmes. Sempre passávamos por ela na volta para casa. Em uma rua íngreme, seus dois cômodos com estantes e mais estantes de madeira rústica repletos de filmes. Achava eu que, como tantas outras,era só mais uma simples vídeo-locadora suburbana recheada de blockbusters. Acompanhei meu amigo e, logo ao entrar, uma surpresa: o som ambiente no local era The Sisters Of Mercy.Fiquei um tanto admirado e pensei “isso é irreal, alguém aqui do meu bairro conhece e gosta de uma das minhas bandas favoritas dos anos 80!”. Ainda sem entender direito se o que estava tocando era só coincidência ou não (a música poderia estar tocando em uma rádio, afinal),comecei a correr os olhos pelos filmes enquanto meu amigo fazia a devolução. E foi então que um pequeno universo alternativo se mostrou: nas estantes, li os nomes; alguns deles só conhecia vagamente de artigos e livros: Truffaut, Godard, Gaspar Noé,Fritz Lang, Win Wenders, Antonioni. E não parava por aí: Os Monty Python que há anos queria ver estavam lá, vários Hitchcock e Woody Allen também. Era uma cena, repito, irreal, que em uma cidadezinha no interior de Minas Gerais, um local abrigasse tamanho acervo de filmes Cult, artísticos e clássicos. Perdi a noção do tempo e só saí de meu estado de estupefação quando meu amigo chamou para ir embora. Na saída, despedi-me rapidamente do dono, um homem grande, de barba por fazer e com cara de (não sei dizer ao certo por quê, mas creio que um sempre reconhece o outro) cinéfilo, que ainda ouvia The Sisters Of Mercy. Laerte nasceu em São Paulo e se mudou para Passos em 2006, mesmo ano em que abriu sua vídeo-locadora . Eu havia selecionado algumas perguntas. Perguntas quadradas que poderiam ter tido respostas diretas e... quadradas. Mas o que se seguiu após a primeira indagação foi um bate–papo agradável de quase duas horas sobre cinema e cultura, em que mudávamos a conversa sobre um diretor para outro, de um filme para outro, fazendo assim conexões contínuas e intermináveis que não deixavam ar na conversa. Laerte de um lado do balcão e eu de outro, com meu caderno de anotações e um gravador sobre a mesa. Na rua, os automóveis rugiam incessantemente; no interior da locadora, All The Pretty Horses, uma banda underground de punk/glam liderada por um travesti chamado Venus Demars, tocava baixinho ...
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- Qual o seu primeiro contato com cinema? Consegue lembrar o primeiro filme que chamou a sua atenção?

Bom, a minha mãe sempre gostou muito de filme, então sempre assisti muitos: Fred Astaire, essas coisas assim, o que não é muito a minha praia hoje, mas naquela época assistia bastante. Eu gostava mais de filmes assim, e de Tubarão e tal... até o dia em que vi Laranja Mecânica(A Clockwork Orange, 1971, Cult absoluto de Stanley Kubrick – n.e.). O que mudou a minha trajetória de cinema foi esse filme. Eu tinha acabado de fazer 18 anos quando o vi em 1979.

- Pelo fato de você ter um acervo em sua maioria de filmes Cult, os locadores são diferenciados ou ainda os que alugam mais são os consumidores de blockbusters?

- É mais ou menos nivelado um e outro, até porque eu costumo forçar muito tipos de filmes mais Cult e às vezes um filme mais antigo Cult acaba sendo mais locado que um lançamento comum.

- E o que você indica quando uma pessoa chega aqui e diz que quer ver um filme mais Cult, mais diferenciado. Qual você acha que é o pontapé inicial para quem ainda não entrou nesse mundo do verdadeiro Cinema?

- Ah, eu sou fã de Felicidade(Happiness, de 1998), do Todd Solondz...

- Nossa, esse filme é realmente demais!(detona o american way of life ao mostrar a vida de personagens tortos e fracassados em busca de felicidade). E você tem o outro dele, o Histórias Proibidas(Storytelling, de 2001). Quero ver também o Bem-vindo à Casa de Bonecas (Welcome to the Dollhouse, de 1995,o primeiro longa do diretor)...

-É, fantástico! Eu já assisti em VHS, é uma pena que ainda não tenha saído no Brasil em DVD. Mas Felicidade é a Obra Prima dele, até agora.



- Agora uma pergunta que é impossível não ser feita para qualquer amante do cinema: quais os melhores para você?

- David Lynch é meu rei (e o Homem Elefante (The Elephant Man,1980) é o meu filme preferido). Mas gosto, fora o Lynch, do David Cronenberg, Luiz Buñuel e Ozu (Pai e Filha é um dos filmes mais delicados  que vi até hoje). Falando em melhores, comprei um livro do Rubens Ewald Filho (crítico brasileiro famoso por ser odiado por outros críticos e pela sua preferência por filmes Hollywoodianos e superficiais -.n.e.), onde ele faz uma lista com seus 100 melhores filmes. E ele consegue colocar 5 brasileiros. Eu analisei, fiquei pensando na coerência e vi que não tem nenhum filme brasileiro que mereça estar nessa lista. Tem Floradas  na Serra(1954, de Luciano Salce), Limite(1931, de Mário Peixoto, considerado o primeiro filme vanguardista/experimental a ser feito no país.- n.e.), O Cangaceiro (1953, de Lima Barreto), O Pagador de Promessas (1962, de Anselmo Duarte)...

- Limite e O Pagador de Promessas são clássicos...

- Dos brasileiros, O Pagador de Promessas eu acho o melhor.

- Sim, foi o único brasileiro que ganhou Cannes. Tem uma lenda que contam que Truffaut teria assistido e ao fim da película aplaudiu de pé, entusiasmado.



- É, mas mesmo assim o filme encontrou certa resistência no Brasil, por parte dos diretores do Cinema Novo, como Glauber Rocha. O mau do brasileiro é o seguinte: eles tentam ser muito literários, querem complicar muito, fazer um círculo fechado onde se acham deuses. Como o Meirelles, que é um diretor meia boca e arrogante ao extremo. Uma vez vi ele fazer um comentário sobre o Ralph Fiennes, que trabalhou com ele no  Jardineiro Fiel(The Constant Gardener,de 2005). O Fiennes, nas entrevistas, disse que adorou trabalhar com ele, que foi um prazer e tal e o Meirelles em suas entrevistas disse que não era o ator que ele queria, que ele é muito Shakespeariano e tal. Achei uma indelicadeza total. O cinema brasileiro é muito ruim. Mas às vezes a gente tem que agradar os outros. Aqui em Passos, por exemplo, se você for falar mal do Selton Mello, você não vai ser bem recebido. Como em O Cheiro do Ralo(2006, de Heitor Daglia); eu até digo que o filme é sensacional...mas não é sensacional! É só bom, razoável. Até começa bem, mas termina muito mal.Aqui é um lugar meio difícil de criticar. Por exemplo, se você está em São Paulo, você não nota esse tipo de coisa porque lá é muito grande e ninguém se interessa pelo seu sobrenome, ou de onde você veio. Aqui não; aqui querem saber de onde você é, qual o seu sobrenome... já pensou se eu morasse em São Paulo e fosse babar para todo o artista de lá, pô! Selton Mello é um ser humano e a arte não tem pátria.Pode ser americano ou judeu ou o que for. Basta fazer bem feito.


- Agora pra terminar vou parafrasear um cara que você não gosta muito, o Jean Luc Godard, que em minha opinião é o maior cineasta vivo: o cinema está morto. O que existem são filmes, mas a experiência do cinema como arte, a experiência de ir ao cinema, morreu.

- Eu não gosto muito desse Godard não.... e acho que o cinema não morre. O que está acontecendo é que infelizmente pelo nível cultural não só do Brasil como da maior parte do mundo, o que está se levando para casa pra se ver são produtos de má qualidade. Vou te dar um exemplo de uma coisa que está me deixando revoltado: Os coreanos hoje em dia fazem o melhor cinema. E o que acontece? Os americanos compram os direitos dos filmes, refilmam para o ocidente e todo mundo gosta, mas não conhecem o original coreano. Como muitas pessoas que vêm aqui: falam dos Infiltrados (The Departed, de 2006), do Scorsese. Dizem que é um puta filme, é maravilhoso...e eu digo “você sabia que essa é uma refilmagem de um filme chinês chamado Conflitos Internos (Wu Jian Dao, 2002, de Lau Wai Keung)?” e as pessoas não conhecem...

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Passos é uma cidade que sempre sofreu por falta de cultura. A prefeitura nunca deu a atenção necessária e merecida, não tem projetos satisfatórios, não toma iniciativas simples que podem fazer a diferença. Passos não tem sequer um teatro municipal, o que é vergonhoso. A verdadeira cultura daqui é feita de forma independente. Os grupos de teatro, as bandas e músicos dos mais variados estilos, escritores e demais pessoas que sozinhas sobrevivem, lutam para que a cidade tenha um suspiro de arte e beleza. Qualquer comunidade não vive apenas de comida, educação, saúde e segurança. É preciso ter Cultura. É fundamental. E Laerte contribui para o engrandecimento dessa nossa brava cultura independente ao ter uma vídeo-locadora com filmes que nenhuma outra vídeo-locadora da cidade tem, filmes que instigam ao pensamento, à reflexão, e assim,  transcendem a idéia de cinema como mero passatempo. O cinema em Passos não é só Selton Mello. Não é feito também só de blockbusters e caça-níqueis Hollywoodianos. Em um cantinho underground, o cinema vive e aguarda ser redescoberto por nós.

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 - Laerte mantém um blog onde posta dicas de filmes frequentemente .Acessem:  http://acidadedossonhos.blogspot.com/

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O apaixonado por F1 que odeia Ayrton Senna (Parte 3)

História

Mentira ou verdade? O Senna realmente ganhou uma corrida somente com uma marcha funcionando no carro?

- Isso foi em Interlagos, em 1991. Ele diz ter ganho somente com a 6ª marcha da McLaren. Só que o Piquet falou numa entrevista: não tinha como um carro só com a 6ª marcha fazer os tempos de volta que ele conseguiu. E quais GP´s o piloto teve que superar - e muito - as irregularidades do carro?

- Em muitas corridas, o piloto praticamente saiu da última colocação para chegar em primeiro, com a primeira vitória de Barrichello, na Alemanha em 2000, quando venceu a corrida debaixo de muita chuva e usando pneus de pista seca. Outras parecidas foram com Schumacher em Spa Francorchamps, em 1995, e Raikkonen, em Suzuka, em 2005. Essas corridas foram verdadeiras obras de arte.

2010

- Se Schumacher conseguir colocar o carro da Mercedes ao gosto dele aí não acredito nele, tenho certeza que vai se sair bem este ano.

Vai ou não conquistar seu oitavo título mundial?

- Este ano talvez não. Principalmente por conta do carro, que sai muito de frente. Ele não gosta de carros dianteiros, e sim traseiros. Acredito que do meio da temporada pra frente, aí vamos ter noção do quanto a Mercedes vai evoluir.



Destruído

- Vou em Interlagos todos os anos, desde 2004.

Você fica destruído: pega vento, chuva, sol de rachar, mas no outro ano você está lá novamente. É uma droga. Você vai e vicia. No kart já deu para eu ter uma noção do que é. E quando vou em São Paulo sempre sinto isso: os caras não querem largar de pilotar F1 nunca. Quem nunca viu, tem que ver, mesmo que não goste de corridas de carros. É que, simplesmente, não é todo dia que se vê carros como esses. É fantástico. Fitipaldi disse logo depois de parar de correr:

- Vencer no automobilismo é uma luta muito grande. Mas continuar vencendo é uma luta ainda maior.

E são poucos, como Guto, que são verdadeiras testemunhas oculares de cada bandeirada, de cada curva, de cada troca de marcha, de cada acelerada e de cada grito de vitória... por décadas. Em um lugar inóspito automobilisticamente falando, entre o Lago de Furnas e a Serra da Canastra, repousa um sujeito apaixonado pela velocidade - e sabe perfeitamente que pessoas vem e vão, mas a paixão verdadeira nunca vai deixar de existir.

Ele é o Camões da F1.

O apaixonado por F1 que odeia Ayrton Senna (Parte 2)

Capeta

Quais os maiores Grandes Prêmios que você já viu?

- Ao vivo, o GP Brasil de 2006. Foi a despedida de Shumi. Ele simplesmente guiou abraçado ao capeta. Impressionante o que ele fez na pista.

Como assim, abraçado ao capeta?

- Modo de dizer. É que ele pilotou muito. Teve problemas, largou em 10º, o carro furou o pneu e se tivesse mais algumas voltas terminaria no pódio.

Pela TV, uma das corridas mais interessantes foi em Silverstone, em 2003, em que Rubens Barrichello venceu.

- Ele é bom sim. Muito mais do que as pessoas acham. O problema é que as declarações dele acabam por miná-lo. Afinal, ninguém está na F1 tanto tempo se não fosse bom. Até o Piquet Pai, que é desafeto declaro dele, disse isso.


Paixão

Não só pela F1.

- Acompanho todo tipo de corrida que passa na TV. Ultimamente tenho interesse também para Le Man Seres e a Fia GT, que também são campeonatos muito legais.

Se não tem a foto do Senna pregada na parede...

- Tenho centenas de revistas, milhares de vídeos e carrinhos em miniatura. Não cabe mais nada no meu guarda-roupas.

São anos de coleções de revistas, mas meus pais acabaram jogando fora. Foi uma facada. Arquivo digital de imagens somam mais de 100 gigas.

E a paixão já rendeu discussão até com a empregada.

- Já me entortou uma antena de telemetria e arrancou o retrovisor da Ferrari F1 2000.

Narradores

A antipatia nem é tanto por outros esportes, apesar de não suportar futebol. Mas diz ter gostado das Olimpíadas de Inverno de Vancouver, principalmente com as competições de trenó.

- Gosto de acompanhar a transmissão da F1 com a narração em inglês, espanhol e português. No rádio, a cobertura da Jovem Pan é excelente.

Pisando

- Velocidade é bom demais. Acho que por isso que sempre fui muito bom em simuladores de carros. Jogo todos os dias para relaxar. Piloto em qualquer pista. Tenho todas memorizadas na cabeça.

Apaixonado pela escuderia italiana (claro, a Ferrari), diz que carro sozinho não ganha corrida - e nem piloto.

- É meio a meio. Um depende do outro. Não adianta ter um carro vencedor e o sujeito atrás do volante não corresponder.

O apaixonado por F1 que odeia Ayrton Senna (Parte 1)

Se as mulheres que recebem os versos de Camões ao pé do ouvido soubessem que eles não existiriam caso uma dela não fosse sacrificada, o amor que desatina sem doer seria uma ferida que dói e se sente.

Da mesma forma que, na brevidade de uma decisão de vida ou morte, Camões salvou do fundo do Oceano os manuscritos de Os Lusíadas (ao invés de sua amada), um apaixonado pela velocidade deixou na sorte da madrugada uma  mulher não tão importante quanto aquilo que realmente nos completa - com ou sem amor.

Enquanto Camões encontrou na literatura a sua imortalidade, o piumhiense Augusto Neto - ou melhor, Guto - vive na plenitude de seu conhecimento e talento absorvendo por quase 30 anos cada detalhe da Fórmula 1, a principal modalidade do mundo em corridas de carros - mais caros, mais potentes e mais desejados do que de todos os outros.

Mito

- A minha primeira corrida foi em 1981, quando Nelson Piquet foi campeão em Las Vegas. Desde então, tomei gosto. E que gosto: de lá pra cá foram mais de 500 corridas acompanhando cada cena. Para ele, Ayrton Senna, vangloriado no circuito internacional como um ‘ser supremo’ e ídolo brasileiro incondicional, não passa do terceiro piloto do país em qualidade e sucesso.

- A Rede Globo criou o mito Ayrton Senna. Até hoje não se passa uma corrida sequer sem o Galvão Bueno relatar o nome dele como o maior de todos os tempos. Piquet e Emerson Fittipaldi foram muito mais completos do que ele. De 0 a 10, daria 8 para Senna.

Galvão

- Ele é petulante, principalmente quando discute assunto com o comentarista Luciano Burti. Guto questiona o narrador brasileiro mais odiado e onipresente da televisão:

- Quem você iria ouvir: um ex-piloto de F1, que conhece, que já participou da maior escuderia (Ferrari), ou de um narrador que insiste em nos fazer engolir seus prefácios? Quem realmente fala com propriedade então?

- Reginaldo Leme. Dá umas gafes, mas sabe sobre o assunto. Só que existem comentaristas melhores.

Shumi

Se não é Senna, quem é o maior de todos os tempos para Guto? O alemão Michael Schumacher, detentor de sete campeonatos mundiais.

- Sem sobra de dúvida, realmente foi o que mais impressionou, não só pelo fato de ter acompanhado toda a carreira dele. Agora, tirando os números, existiram grandes pilotos como Giles Villeneuve, que foi endeusado nos tempos de Ferrari. Mas claro que tiveram outros que fizeram história, como Niki Lauda. Dado como morto após acidente em Nurburgring e anos depois veio a ser campeão novamente.

Tecnologia X Comportamento

Vamos para a boate face, fazer um book para colocar no Orkut e ser a frase do twitter?

 Hoje é esse o convite que você faz na hora do flerte, desculpa é paquera, flerte é na outra versão do Windows, do MSN e do Orkut antes dos facebook.
Quem diria que um dia iríamos a uma boate dançar com nossos amigos virtuais, o máximo que lembro são os imaginários, mas isso era antes. Nem os imaginários são imaginados, agora os virtuais são projetados e manipulados para uma vida humana impressionante, lá rotina não tem. Nós podemos fazer deles o que queremos ou apenas o que fariam conosco se fosse possível.
 Qual será o mais confiável? A mente humana, ou um monitor de Led ligado a rede mundial de computadores, com outros usuários de todos os continentes que universalizam todas as boates, opa!Faces?
Para Itamar Faria, professor de Sociologia e Antropologia da Facomp, “a internet, particularmente as redes sociais, radicalizam isso. Cada qual cria o seu perfil e se apresenta como acha melhor, dando vazão a suas fantasias e incorporando ou inventando "identidades". De modo geral o comportamento é moldado pela interação. A interação localizada no mundo virtual transpõe-se ao mundo "real" no
comportamento das pessoas.”
O uso da internet freqüente e sem moderação começa a mostrar as suas conseqüências na sociedade.
A dependência desse meio está levando pessoas a deixarem suas vidas terrenas onde os corpos se encontram presentes para se aventurar na terra de ninguém, onde todos são todos. Faces e mais faces. A individualidade, a essência do ser humano termina onde um é todos e todos são um.
“Ora, o mundo real não é tão diferente assim. Uma grande diferença está no fato de que a internet possibilita o contato com um número infinitamente maior de pessoas. Mas, de forma geral, o comportamento das pessoas é uma negociação entre o que eu quero ser e o que os grupos aos quais pertenço esperam e determinam que eu seja. Se na vida "real" assumimos posturas as mais diversas em função dos grupos aos quais pertencemos, no mundo virtual isso também ocorre. Aí o diferencial é que podemos nos reinventar completamente e dar vazão a facetas outras de nós mesmos.” Ressalta o professor.
Essa imaterialidade, essa vida abstrata que faz o homem ter outra personalidade, pintar o cabelo como quiser, vestir a roupa como quer, escolher seu nome sem aquela caretice de pai, mãe e sociedade, rebelar e mostrar faces e faces.
Entramos então na sociologia e na antropologia a evolução do homem e a da sociedade. Ambas estudam a relação do homem inserido no meio social.
Segundo Itamar, “a internet acaba emulando o próprio cenário social. Vivemos numa sociedade de consumo em que o que acaba definindo o sujeito é a sua capacidade de consumo. É um ambiente mais marcado pela exibição de imagens (inclusive uma auto-imagem) do que por relações mais profundas. Também no mundo "real" os contatos são mais negociações entre personas do que relações entre pessoas.”
Eles vivem na “terra do nunca” onde pertencemos a quem queremos, ou não seguimos e temos as faces de quem admiramos, ou até mesmo se pudéssemos roubaríamos a vida.
Coitado do amigo imaginário, como essa rede é cruel. Vejamos há dez anos tínhamos certa comunhão com toda nossa vida, hoje o Maximo que temos é um HD mais potente.
Para o estudante de jornalismo, Daniel Polcaro, “a internet mudou meu comportamento desde que há conheci. Não sou um anti-social por causa da rede mundial de computadores. Apesar de ser o meu principal meio de trabalho, sinto que fiquei refém da internet e que preciso dosar mais para não ficar tão impaciente e dependente dessa tecnologia. A internet hoje talvez seja, em determinados grupos sociais, a que tem o maior poder de mobilização e divulgação do seu trabalho - para o bem ou mal. Já conheci pessoas fantásticas onde o primeiro contato foi pela internet.”
Para muitos a facilidade em se comunicar é essencial e para uns perdemos esse contato social.  Ser um internauta... Quer dizer, ser um internauta já está caído. Agora se você for um “Mac, um face, um usuário, ou melhor, um morador da fazendinha” é como um avanço no mundo tecnológico, um software em nova versão. Nesse exato momento você sentiu que acabou de sair de uma lipo, está se sentindo Madame Bovary ou a Ivete Sangalo? É a internet.
Penso que um comportamento cultivado no mundo virtual tem chance de
tornar-se um comportamento social na medida em que encontra eco nas
interações concretas, pessoa a pessoa. Afirma, o professor.
Para muitos o mundo virtual está ampliando para ser mais real possível. Esse simulacro revela uma nova sociedade que faz do seu mundo, um Admirável Mundo Novo, mas com uma diferença: a luz apática e a cor pálida será a de nossas vidas.






quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Eu fui na zona

Por Vanildo Marley

De pessoas escondidas da sociedade, para uma popularidade que os cineastas e escritores e sem-vergonhas, como eu, abençoam. As garotas de programa, que antes ficavam atrás da porta, hoje se abriram (não conote) para a realidade e passeiam em bocas que vão do uísque à cachaça.

Talvez Julia Roberts, aliás, Vivian, em Uma Linda Mulher, ou Ana Paula Arósio transformada em Hilda Furacão tenham colaborado para a expansão das mulheres de “negócio” (faça mil conotações).

Mas não culpemos somente essas pobres personagens, pois, como dizem os religiosos (não é meu caso): o mundo está perdido sim! O mundo está mesmo desencontrado, porém, não é somente por isso. Não esquecemos da prostituição política, por exemplo.

Partindo direto ao que me ocorreu com as tais (não quis ser pejorativo, é vicio de linguagem mesmo) ... Não é nada que está imaginando. Apenas freqüentei alguns ambientes do gênero para observar a conduta dessas mulheres e, também, dos homens que vão atrás deste “prazer comercial”.

Sábado, 20 de março de 2010, após um dia exaustivo onde além de fazer uma mini mudança para Passos, fiquei na beira da estrada por mais de 3 horas depois que o motor do carro me deixou na mão e com um sol de graus incalculáveis, resolvo sair para beber aquela cerveja abençoada em algum boteco de Carmo do Rio Claro. Quando me intimo á ir embora, “vozes” me chamam para ir na zona. E no interior quando alguém chama para ir na zona, não é zona oeste ou sul como em metrópoles não. É zona de zona mesmo! Pensando já nesta matéria, fui! Do jeitão desengonçado que estava; chinelo de dedo, bermuda floral e uma camisa pré-histórica do Corinthians, pela minha memória de 1999.

Já no ambiente, o cidadão que me fez o convite pediu um goró. Entre uns goles e outros, ouvia-se na máquina de música (daquelas em que onde você compra uma ficha e tem direito a escolher uma música) ,
Zezé de Camargo e Luciano, Bonde do Tigrão (nesta hora a mulherada foi ao delírio), Terra Samba com boneco doido (tinha uma que parecia mesmo).

Quando tudo estava aparentemente tranqüilo e eu me divertia com as investidas de uma mulher no meu “guia turístico”, vêm um cara aparentando ter uns 22 anos ou menos e tira satisfação, dizendo que a tal mulher era bonita, gostosa, mas que era dele. Neste delicado momento, lembrei do Usain Bolt não sei por que.

Senti minhas pernas bambas, a barriga deu sinais que me faziam lembrar de papel higiênico e por dentro eu já estava mais gelado que a Antártida, apesar do clima estar como os desertos do Saara e Atacama juntos às duas horas da tarde. Foram uns 3 minutos de conversa que pareciam uma infinidade coberta de pavor. E que não sei como terminou. Sem muita força para caminhar, tamanho era meu medo, sem me dar conta eu já estava na saída do estabelecimento, rumo ao carro. O problema é que tinha esquecido que a chave do automóvel não estava comigo.

Saindo do momento tenso, migramos para a casa que fica do lado da outra que estávamos. Lá um clima mais ameno, e mulheres mais deliciosas. Mas havia jaburus, e pior, essas as mais fresquinhas.  Elas se achavam personagens de Gabriel Garcia Marques em Memórias de Minas Putas Trists e que algum velho já com a vida feita fosse tirá-las dali para uma noite que eu chamaria de quase amor. Uma vez que uma noite de completo amor com alguma delas seria humanamente impossível. Mas como ali não era literatura, somente a arrogância seriam suas companhias naquela noite.

  No local havia um número significativo de pessoas, muitos homens tentando se esfregar e ter ao menos um desconto para fazer o que suas mãos fariam de graça, embora houvesse dois mulherões que num estado de descuido da razão e falta de compaixão no dinheiro ganho, faziam a lógica dar espaço ao tesão sem dó. Confesso que suspirava forte quando uma loira dos olhos verdes, me olhava fixamente e com uma voz macia contava de suas farras por BH. Talvez por medo, ou “broxismo” mesmo, a loira se esfregava fervorosa e nada de uma reação (é isso mesmo que está pensando), algum tipo de resposta. Situação que me deixou um pouco constrangido, porém minha cara de “pau” (entendeu o trocadilho?) foi maior e fingi que estava tudo normal.

Entre uma esfregada e outra, uma outra gostosona me chama a atenção de forma bruta. O cidadão que estava comigo tentou uma abordagem insensível que resultou em olhares impiedosos entrelaçados com uma cara de desagrado geral por parte da moça.

Nessa hora saí do balcão e fui até onde a tal tinha sentado. Me apresentei e perguntei se podia sentar ali do lado e conversar. Ela com a cara fechada respondeu que sim, provavelmente achando que fosse mais um a lhe fazer propostas sexuais. Mas meu discurso foi outro, não resisti e fui especulá-la sobre sua vida. De onde era, o que fazia antes, se gostava ou era necessidade, enfim, essas coisas.

Comecei então minha conversa com a Alfenense de 26 anos e que “trabalha” como garota de programa há 5. Meio nervosa, provavelmente por não ter sido uma noite financeiramente boa, aos poucos foi ficando tranqüila e começou a contar sobre sua família, seus sonhos, mas admitiu para minha surpresa que, estava ali porque gostava do que fazia.

  – Sua família sabe o que faz?
  – Sabe sim.
  – Ela não se importa?
  – Não, na minha casa ninguém preocupa muito comigo (nesta hora vejo em seu rosto muito ódio).
  –E você tem mágoa disso?
  – Trato minha família do mesmo jeito que ela me trata. Também não ligo muito, não dou satisfação de nada da minha vida, não dependo dela pra viver nem nada (responde ainda com o rosto aparentando muito ódio).
 –Tem algum sonho?
 – Quero ter uma vida boa, não precisar mais disso para sobreviver.
Nesta hora fiz cara de tapado (ou seja, minha cara continuou do mesmo jeito de sempre), pois ela estava contradizendo o que havia dito para mim no começo da conversa quando disse que curtia o “trabalho”. Eu fiz de conta que estava tudo bem, não seria nenhum pouco agradável cutucar a moça com essa sua contradição. Achei melhor continuar o papo, pois percebi que o que ela havia me falado no início era por falta de assunto, uma tentativa de acabar logo aquilo, acreditei então que seria da boca pra fora.

Passei então por cima da contradição e segui perguntando. Aos poucos ela foi se soltando (sem conotação). Percebo então ali, uma carência que andava de mãos dadas e não soltava de uma angustia sem sinal de paz. Sem paz também fiquei e não resisti e perguntei quanto ela cobraria por um programa. Mas antes disso pedi licença para ir ao banheiro (sem pensamento de adolescente com espinhas na testa). Fui lá para anotar algumas coisas e não esquecer o que ela tinha dito.

–Já chegou a ganhar quanto em uma noite?
– Agora não ando bem. To desanimada disso, não sei o que fazer da minha vida. Mas quando estava disposta ganhei bem, mas não aproveitei, talvez por saber que o dinheiro que ganhava era um dinheiro que as pessoas sempre me descriminariam. Teve final de semana que ganhei mais de R$ 1.000.
– Tem alguma paixão mal resolvida e que tenha colaborado para te deixar indecisão que passa na sua vida? (Fiz essa pergunta, porque quase sempre tem dor de cotovelo no meio dessas estórias).
–Tem sim. (está vendo?) Namorei com um cara desde os meus 14 anos. Gosto dele até hoje, perdi a virgindade com ele, sempre apostei na nossa felicidade juntos.
–E ele por onde anda?
– A última vez que tive notícia, estava em Curitiba.
–E por que terminaram?
–Ele me traiu. E neste tempo engravidou a outra e me deixou, porque resolveu juntar com a mãe de seu filho. Eu fiquei muito mal nessa época.
–Foi esse o motivo que mais te incentivou a fazer programas?
–Foi sim. Vi que era uma forma de dar o troco nele, achei que ele fosse sentir ciúme quando ficasse sabendo e fosse me pedir perdão. Acho que é por isso que hoje ando tão indecisa, porque isto infelizmente não aconteceu.
–E quanto você cobra por um programa?
Atenta ela pergunta o que estudo; eu tento esquivar dizendo que era administração, pois falar que era jornalismo poderia, aliás, iria colocar tudo a perder, porque obviamente percebia minha intenção em apenas obter informação. Mas eu só não contava que a moça começava a suspeitar que me conhecia e, começa um bombardeio impiedoso de perguntas:

–Você tem quantos anos?
–Sou mais novo que você (rimos)
–O que fazia antes de estudar administração?
–Nada, é minha primeira faculdade.
–Você vai muito em Alfenas né?
(sem perceber onde ela queria chegar respondo brincando)
–Sim. Eu curto muito sua cidade. Tenho muita identificação com a galera de lá. Deve ser por causa das festas (rimos).
–Você já trabalhou em tal rádio?
(Neste momento fiquei tenso, quase enfartei. Ela acertou em cheio, pois realmente tinha trabalhado numa importante rádio da região e que embora não ficasse em Alfenas é como se fosse lá, tamanha era a audiência na cidade do Jota Questiano Rogério Flausino).
–Sim (respondi para ver no que daria aquilo).
Ela diz: ah, eu acho que te conheço, sua voz e jeito de falar não é estranho. Fechei os olhinhos (sem conotação de novo), concentrei e tentei lembrar se a tinha em alguma parafernálias eletrônica (orkut, msn, twitter, facebook, google wave, etc...) já que a maioria do pessoal que mantenho contado na rede é alfenense, tamanho é o ciclo de amizades e admiração que tenho pela galera de lá. Mas nada de lembrar.
–Você é o Marley né? (apelido que ganhei quando tinha um cabelão estilo ridículo) O locutor que só falava besteira né?(rimos) Eu vi foto sua no site da rádio tal (queria um publicitário para fechar um jabá com a rádio para dizer o nome aqui).
Sem graça respondo que sim.
–Eu já te vi em um show em Alfenas pulando feito louco. (Fiquei desconcertado nesse momento).
Percebendo a dramaticidade do assunto, pergunto-lhe novamente o preço de seu programa, e ela da uma resposta que não responde nada:
– Depende, cada momento é um preço, agora não tem porque estou indo dormir.
Eu insisto:
–Quanto é seu preço?Ela insiste em não responder.

 Vi que não havia clima para ela continuar ali, parecia que nada fazia sentindo. Um ar de tristeza e revolta a possuía, e me restou ter pena, mesmo que não devesse ter. Ficamos alguns segundos olhando um para outro, e assim que ela pediu licença e disse que iria dormir eu lhe peço seu número de celular e ela com olhar amigo, acredite, com uma educação admirável me passa. Pergunto se posso ligar para continuar a conversa e num suspiro responde que sim. Só que anta anotou o número, mas esqueceu de salvar. Eu me rendo, já estava meio bebum essa hora.

Ah, e eu o meu colega? Este havia saído com mais de R$ 300,00 e voltara para casa bebaço e com absolutamente nada de grana. Torrou tudo em birita, acredite se conseguir.

sábado, 13 de novembro de 2010

Música / Fanfarra de São João Batista do Glória

Danilo Soares

Ver a banda passar pelas ruas da cidade, sem dúvida, faz parte do gosto popular brasileiro. Que dirá Chico Buarque de Holanda, que até hoje colhe a receptividade do público com a  “Banda”, composição de sua autoria, feita nos finais dos anos 1960, nos velhos festivais da TV Record. “Estava à toa na vida, o meu amor me chamou pra ver a banda passar, tocando coisas de amor”. Verso  singelos como esses, retratam o nosso imaginário e a nossa sensibilidade. Peque- nas coisas fazendo a felicidade de uma gente. Transportemos para São João Batista do Glória, uma pequena cidade do sudoeste de Minas, cheia de cachoeiras, matas, cachaça das boas e de uma gente que ainda aprecia as coisas simples e naturais. Ali também há um gosto evidente pela música. Pelas bandas, que no tempo de nossos avós apresentavam-se nas praças. Nesta pequena e admirável cidade, há mais precisamente uma paixão pelas fanfarras, velhas fanfarras que se apresentam nas festas cívicas da cidade. Que ao passarem pelas ruas, podemos ouvir a gritaria da meninada: “Olha a banda, olha a banda”.  É isso, Glória tem uma fanfarra com mais de 40 anos. Seu nome simples, esconde um baita orgulho de sua gente: Fanfarra Municipal de São João Batista do Glória, nascida da predis- posição e força de vontade do professor Hélio Soares Negrão, um passense muito querido na cidade do Glória.
Dizem que quando inaugurada, a fanfarra contava com cerca de dez componentes e pelos registros com apenas um instrumento de cada espécie. “Esses equipamentos eram a novidade da época”, recorda Zoroastro De Simoni, proprietário do cartório da cidade, muito ligado à cultura e à história do município. Ele reforça: “os equipamentos da fanfarra eram inusitados para o povo, era como se fosse, hoje, uma TV última geração chegando à cidade”. Com tal escassez de instrumentos, no início, fico imaginando uma fanfarra de um bumbo só. Mas que quando alguém quer faz o maior barulho e festa. É essa a imagem que tenho, ao ouvir sobre a história da fundação da fanfarra do Glória. Instrumentos à disposição, foi preciso o empenho, muito esforço do professor Hélio, para que pudesse ser descoberta a vocação de várias pessoas para a fanfarra. É o que o povo conta. Um desses talentosos foi Ivore De Simoni, descoberto para fazer parte da fanfarra, por volta de 1971.
Ele explica à nossa reportagem que se apresentavam nas datas festivas da cidade, como o aniversario do município, as festividades rurais, entre outros momentos. O senhor Ivore, que viu várias gerações passando pela fanfarra do Glória, destaca que na época em que começou a tocar havia cerca de 30 integrantes apenas. “Havia uma dificuldade muito grande de encontrar pessoas para tocar os instrumentos, mas muitas, centenas de pessoas, gostavam mesmo era de ficar assistindo aos ensaios e sobretudo às apresentações. Era a opção de lazer para os finais de semana. Havia uma emoção no rosto de cada uma destas pessoas”, recorda o fanfarrista.
Com o passar dos anos, pessoas de todas as idades se ingressaram na fanfarra. Assim, gerações diferentes passaram a valorizar este bem cultural da cidade.  Conforme lembra Ivore, “assim que Hélio Negrão deixou a regência da fanfarra, quem começou a guiar os integrantes foi o professor Tácio Martins da Silva, (já falecido),que esteve à frente por vários anos, mas ainda com a mesma dificuldade de instrumentos, que cada vez mais passaram a ser poucos, uma vez que o número de integrantes crescia a olhos vistos.  Após Tacio Martins, a fanfarra ficou alguns anos parada e voltou sob os cuidados de Vilmar de Moraes,que há mais de 28 anos dedica seu tempo e esforço para fazer da fanfarra de São João Batista do Glória destaque na região. “A fanfarra é destacada por toda a gente da cidade, por sua qualidade aprimorada, por sua organização no antes, durante e depois dos desfiles, especialmente pela criação de novas cadências que embelezam sua apresentação”, revelam os atuais integrantes.
Ao lado de Vilmar Moraes, nos últimos anos a regência conta também com a participação de Zoroastro de Simone. Ambos vêm cada vez mais despertando credibilidade e confiança nos seus trabalhos, prova disso é que estão sendo convidados para ensaiarem outras fanfarras de cidades vizinhas.  Hoje, quarenta anos depois das primeiras apresentações, e com mais de 60 instrumentos, a fanfarra emociona e desperta os mais profundos sentimentos.  

A emoção de todos
 Trecho de uma crônica de Zoroastro de Simone, um “apaixonado” pela fanfarra gloriense com suas histórias que marcam uma época.  “De repente em meio ao silêncio de uma tarde de sábado, por vezes num domingo de manhã, meus ouvidos percebem um ruído diferente do habitual pra’queles dias. Paro, atento, concentrado...; reconheço o toque dos tambores. É próximo de junho. É a fanfarra emsaiando. Em meio a esse grupo destaca-se  um, especial, de nome Anderson: sem poder manifestar-se claramente pela fala, busca ansiosamente junto a Vilmar, ter o privilégio de se integrar ao grupo de instrumentistas”.



Segundo o dicionário Aurélio, fanfarra [Do Francês. fanfare.]  1. Ant. Toque de trompas e clarins nas caçadas. 2. Conjunto de melodias de caça. 3. P. ext. Banda de música que acompanhava os cortejos civis ou os regimentos de cavalaria; banda de cavalaria, charanga. No Brasil fanfarra oue bandas marciais são os nomes dados às bandas musicais compostas por várias pessoas, músicos, componentes   Suas apresentações podem acontecer em ruas, avenidas, ginásios, campos de futebol, entre outros. As fanfarras trazem sempre em seus repertórios músicas e movimentações das mais diversas ao público.
 Além dos que tocam instrumentos de sopro e percussão, existem componentes que se utilizam da arte cênica para implementar movimentos e beleza ao espetáculo apresentado, podendo vir a utilizar espada, lança,  bandeira,  mastro e outros. Podem ser conhecidos como linha de frente, corpo coreográfico, baliza de fanfarra,  pelotão de bandeiras. O movimento de bandas ou fanfarras no Brasil segue vários estilos, muitas vezes regionais, uma vez que existem muitas culturas diferenciadas em todas as regiões. “Na fanfarra é onde tudo começa.

O movimento de bandas ou fanfarras no Brasil segue vários estilos, muitas vezes regionais, uma vez que existem muitas culturas diferenciadas em todas as regiões. “Na fanfarra é onde tudo começa.

 A partir dela, tudo fica mais fácil para a instrução musical e social da pessoa”, diz Augusto, 20, na maior convicção. Pelo jeito, a fanfarra proporciona as maiores emoções e os melhores sentimentos na vida dos glorienses. “Para mim, ver as pessoas desfilando é uma das coisas mais emocionantes de minha vida. A alegria que sinto supera a do meu aniversário. A fanfarra é uma festa de todo mundo”, revela Dona Julia Souza, na sabedoria de seus 83 anos. Segundo Zoroastro de Simone, a fanfarra de São João Batista do Glória é de formação simplista e de fácil organização, além de seu grande efeito sonoro. Devido a sua linha melódica clara e bem definida, sempre acerta na combinação timbrística e rítmica, desde peças eruditas até as contemporâneas. Para ele, talvez uma orquestra fascine muito mais pela sua técnica e arrojo, mas uma fanfarra encanta a todos pela própria natureza de seu som puro e original. Como se vê, a paixão de todos pela fanfarra não tem limites.

Assim, na cadência harmoniosa da fanfarra, Glória vai seguindo com sua cultura, sua gente, sua história. História de um povo que aprendeu a viver em meio a dificuldades, prefácio de um lugar simplesmente deslumbrante, que encanta os sete ventos que passam. Vidas surradas, que com alegria transformam a natureza de um caminho. Percurso que começou do longe, bem longe, e que hoje ainda está com o mesmo fôlego, após uma caminhada de anos. 

E quando chega o dia da apresentação  oficial, não há quem não vibre e aplauda a cadência harmoniosa desta fanfarra que é um orgulho de todos os glorienses. Coisa de interior? Quem  sabe! Mas coisas de quem ainda tem tempo para parar e ver a fanfarra passar.A história da fanfarra se resume na concretização de um sonho; de uma vontade que hoje alcança centenas de sonhos, que fazem parte de uma constelação de realizações que brilham.  Foi graças a ele, o senhor Hélio Soares Negrão, que inúmeras pessoas puderam ir ao auge de sua alegria, compondo a Fanfarra Municipal de São João Batista do Glória.


Links Externos sobre São João Batista do Glória